sábado, setembro 15, 2012

Caravaggio



Querido Caravaggio,
Espero que a ressaca seja leve com você dessa vez, por favor sente-se confortavelmente e leia os fatos ocorridos na noite passada, pelo menos assim você vai saber como chegou em casa são e salvo.
(Deixei um pouco de café pronto, vai lá buscar)
Ontem, sábado, foi o último dia de apresentação  daquele grupo de São Paulo. O palco foi montado do lado de fora do Pedro II, era algo monumental! Um navio digno de Capitão Jack Sparrow especialmente projetado para que em todas as apresentações, o público possa ouvir e sentir todos os detalhes. Senti meu braço arrepiando várias vezes.  Depois que eu e meu tio “desembarcamos”, as luzes da praça e do teatro continuaram a contribuir para a atmosfera.
Como você sabe, ontem também teve a festa pós-espetáculo para alguns poucos convidados dentro de um dos salões do Pedro II – estou detalhando bem porque não sei em qual ponto o vinho apagou da sua memória.  Continuando:  estava dando uma volta pelos corredores para matar o tempo enquanto o encontro com os artista não começava. Perto da porta da sala dos espelhos, quase caindo numa planta, estava você. Sempre surpreendendo com estradas criativas nos meus passeios.

Sério, Caravaggio? Bêbado até no Pedrão?  E em impressionantes 50 minutos pós –espetáculo.
Suspirei ao te reconhecer e me aproximei, segurando sua cabeça entre minhas mãos e verificando se você ainda estava ente nós. Se eu te encontrar desmaiado em alguma outra festa, darei meia-volta e sairei de fininho. Mentira, provavelmente eu vou pegar o seu celular, ligar para ambulância, avisar um garçom e aí sim eu saio de fininho. ­Bom, arranquei a taça de vinho da sua mão, consegui levantá-lo mesmo com sua pessoa tentando me afastar e murmurando qualquer coisa e saímos cambaleando entre os outros convidados até conseguir encontrar com meus tios. Sorte sua que eles já estavam de saída e concordaram em te deixar em casa. Passei uns bons 10 minutos até chegarmos ao ateliê/casa com sua cabeça no meu colo e morrendo de medo de você resolver dar um showzinho no carro. Era um peso quase morto encostado em mim, com a boca aberta. Quando as luzes dos postes batiam, podia ver que seus olhos estavam ora abertos, olhando pra mim – tentando buscar um foco, provavelmente-, ora fechados, perto de adormecer e me causar MAIS problemas.
Sua casa/ateliê me lembra o filme do Edward Mãos de Tesoura: no meio de uma cidade normal, em cima de uma farmácia, aquele grande salão com vidros escuros que dão para rua.  Um pouco deslocado com a paisagem de comércio de bairro, mas eu gostei. Entramos e o máximo que eu consegui fazer foi joga-lo na poltrona perto da cama. EU deitei na cama gigantesca e relaxei um pouco.
Uns 20 minutos depois, levantei e fui para parede dos fundos ver no que estava trabalhando. Vi uma garrafa de vinho pela metade no caminho. É, vejo que preparou um esquenta antes do espetáculo. Devo dizer que há coisa muito boa ali no meio, que infelizmente você não termina porque perde tempo se embriagando como um rockstar. Caravaggio, um artista plástico local não tem tanto status para inventar depressões/ataques/desculpas para bebedeira. Vá ler mais e busque inspiração sem passar vexame pelos bares.
Enfim...Fiquei no loft até começar a amanhecer. Guiei-me até a cozinha e preparei café para nós. Voltei para o quarto e você estava uma coisa, todo torto na poltrona. Mais uma vez, passei seu braço por cima dos meus ombros e o levei até a cama.
Espero que tenha lido o e-mail até aqui. Você deveria começar a me escutar mais, just saying.
Sim, você me deve mais essa.
Até.

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Conto foi baseado em um sonho. O nome Caravaggio foi apenas uma coincidencia com o artista impressionista.

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