domingo, agosto 14, 2011

Cacete de Agulha

Eu nem ia, mas fui. No meio do caminho eu me arrependi de não ter chamado o Seu Nélson. Sua cervejinha pós- futebol estava bem visível, não só no jeito mais mole de falar, mas também nas três vezes em que errou o caminho para a rodoviária. É, isso e o fato de você não parar de falar. E o pior, você bateu na mesma tecla o caminho inteiro:
- Eu não vou mais em festas de aniversário e reuniões (blá blá blá)
- Por que não?
- Não tem mais porque ir, principalmente agora depois dos últimos acontecimentos (blá blá bá)
- Hm. Mas não é nada sério...
- Não, pode não ser. Mas eu (blá blá blá )
Eu aprendi a não falar com você. Já tentei explicar de maneiras diferentes, mas você me interrompe ou fala “Eu sei...” e acaba dizendo a mesma coisa, diz que entende mas também não vai aos aniversários e reuniões. Tô fazendo economia de saliva.
Infelizmente isso não alivia os pensamentos na minha mente e aquela sensação de aperto em algum lugar. Eu tento e realmente gostaria de sair fora desse meio entre vocês dois, mas eu nunca consegui totalmente. Ou passar isso para o físico, sei lá. Quando você errou o caminho na terceira vez eu pensei muito em abrir a porta do carro e sair andando, sair do aperto. E aí a mente fervilha e eu começo a pensar em “Não se preocupe/ não ocupe sua mente com isso/ não se deixe afetar. Não. Não.” Eu começo uma briga interna e começo ficar com raiva. Por que você precisa me falar isso?
Rodoviária, finalmente.
Passei bem depressa pelo térreo, não para conseguir pegar o ônibus mais fácil, mas para criar distância. Só pude relaxar quando senti o motor ligando e as luzes apagando. Finalmente eu pude soltar a garganta, ouvir uma boa música e sentir uma água tímida e quentinha passando pelo meu rosto.
Sei lá, fui aos poucos deixando esses pensamentos caídos pela estrada. Cheguei na rodoviária como uma fugitiva e com uma noite zerada para aproveitar.

http://www.youtube.com/watch?v=zuMiBR7KQV0&feature=related

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